No dia 1.º de novembro de 1849 os bávaros foram tomados de surpresa por uma novidade introduzida nos guichês de correio do reino em que viviam: antes que os funcionários postais recebessem as suas cartas para enviá-las aos respectivos destinatários, era necessário comprar um pedacinho de papel, de forma quadrada e fixá-lo sobre o envelope.

Desta forma estava lançado o primeiro selo postal na Alemanha. Os súditos do rei da Bavária podiam escolher entre três variações:
✅ o selo preto de um cruzado, retratado na chamada desta postagem (Kreuzer),

✅ o azul de três cruzados ou

✅ o marrom, de seis cruzados.

A história de sucesso dos selos postais começou, como sabemos, com o Penny Black.

Foi na Inglaterra, com a reforma de Sir Rowland Hill que se teve a ideia, muito simples mas revolucionária, segundo a qual o remetente é que está interessado no envio da carta e é, portanto, quem deve pagar pelo transporte postal. Isso ocorreu, naturalmente, numa época em que o setor dos correios já estava, de certa forma, organizado.
Podia-se confiar no sistema, era certo que a carta chegaria, mas era preciso uma espécie de recibo, comprovando o pagamento do serviço. Esse recibo tinha de estar bem visível na carta. Chegou-se, então, à ideia de colar um pequeno pedaço de papel no envelope, a fim de que fosse carimbado, inutilizando-o para novo uso postal. Em outras palavras o selo perdia o valor assim que utilizado uma vez. Com isso, o serviço estava efetivamente pago.

A época dos primeiros selos alemães foi também uma época peculiar e marcada por muitas tensões. A Revolução Industrial estava transformando rapidamente toda a Europa. Negociantes, industriais e cidadãos comuns produziam um volume crescente de correspondência que precisava ser transportada. A introdução dos selos foi uma parte da modernização: as cartas começaram a chegar muito mais rapidamente aos seus destinatários, pois o transporte já tinha sido pago previamente.
A Alemanha, no entanto, estava dividida num grande número de pequenos principados, reinos, ducados e cidades hanseáticas (situação que persentiria até 1874). Em cada um dos pequenos estados circulava uma moeda própria e havia também uma organização própria dos seus correios. Um a um, todos seguiram o exemplo da Baviera e também introduziram seus próprios selos postais.

Vejamos, na sequência uma tabela em que vemos como a novidade, ao longo dos anos, disseminou-se rapidamente por toda a Alemanha:
| 1.º de julho de 1850 | Saxônia |
| 15 de novembro de 1850 | Prússia |
| 15 de novembro de 1850 | Schleswig-Holstein |
| 1.º de dezembro de 1850 | Reino de Hanover |
| 1.º de maio de 1851 | Grã ducado de Baden |
| 15 de outubro de 1851 | Reino de Württenberg |
| 1.º de janeiro de 1852 | Brunswick |
| 5 de janeiro de 1852 | Grã ducado de Oldenburg |
| 29 de janeiro de 1852 | Thurn & Taxis, Norte e Sul |
| 10 de abril de 1855 | Bremen |
| 1.º de julho de 1856 | Mecklenburg-Schwerin |
| 1.º de janeiro de 1859 | Hamburg |
| 1.º de janeiro de 1859 | Lübeck |
| 1.º de novembro de 1861 | Bergdorf |
| 1.º de março de 1864 | Ducado de Holstein |
| 10 de março de 1864 | Ducado de Schleswig |
| 1.º de outubro de 1864 | Mecklenburg-Strelitz |
| 1.º de janeiro de 1868 | Confederação da Alemanha do Norte |

A título de exemplo, acima podemos ver a primeira emissão da Saxônia, denominada de Sachsendreier ou vermelho Sachsen, dos quais foram impressos um contingente de meio milhão de exemplares.

A Prússia, por sua vez, também fez sua emissão postal, como também podemos ver acima, mas introduziu uma novidade, segundo Frank Walter, ex-presidente da Associação de Filatelistas de Berlim:
“A Baviera e a Saxônia haviam produzido selos bonitos, com muitos ornamentos para dificultar a sua falsificação, onde estava impresso o número 1 ou, no selo de três cruzados, o número 3. Tudo tinha uma aparência muito bonita. Mas logo se teve a ideia de que as estampilhas também podiam ser usadas como instrumento de propaganda. Imprimiu-se nelas, então, a efígie do chefe de Estado ou símbolos estatais, brasões e coisas semelhantes”.
Entretanto, com todas essas novas emissões, ficou regulamentado o tráfego postal apenas dentro das fronteiras de cada um dos pequenos estados alemães. Continuava sendo um processo extremamente complicado o envio de uma carta de Hamburgo para Hannover ou de Munique para Stuttgart:
“Por exemplo, no sul da Alemanha, foi dada a concessão para o tráfego postal à família dos príncipes von Thurn und Taxis, que até hoje goza de isenção das tarifas postais. Posteriormente, desenvolveu-se também um chamado Distrito Postal no norte da Alemanha, através das fronteiras, pois os estados chegaram à conclusão de que era necessário fazer uma padronização”.
Antes de concluir a presente postagem, foram impressos um total de 832 mil exemplares do primeiro selo postal alemão, o “preto de um cruzado” da Baviera (o selo que ilustra a chamada desta postagem). Deles, ainda devem existir cerca de trinta mil exemplares. Dependendo do grau de preservação, tamanho de margens, seu valor pode chegar a soma de 50 mil euros.
Existem muitas histórias sobre os primórdios do uso das selos postais na Baviera. Afirma-se, por exemplo, que quando se tinha de pagar três cruzados por uma carta e só havia selo de seis cruzados à mão, os funcionários do correio simplesmente dividiam o selo em diagonal, bissetado. Segundo ainda Frank Walter, tal história não tem nenhum fundamento: as administrações de correio na Alemanha jamais permitiram que os selos fossem cortados.
O filatelista só conhece uma única exceção, do ano de 1901, em alto-mar:
“Só houve na Alemanha um único caso de improvisação, a bordo de um cruzador, o Vineta, onde os selos estavam acabando e não se recebeu a tempo a remessa de Berlim. Aí, os selos foram realmente cortados pela metade, na vertical, utilizando-se apenas a metade da estampilha”.
(Postagem atualizada em 31/XII/2022)
















