Há 50 anos, o homem ainda não tinha ido à Lua, mas já poderia imaginar como seria quando fosse.
Isso porque, dois visionários, o cineasta Stanley Kubrick (1928 — 1999) e …
… o escritor Arthur C. Clarke (1917 — 2008) tiveram a genialidade de criar uma narrativa em que, com tons fortemente realísticos, o ser humano, entre outros feitos, chegava ao satélite natural da terra.
De fato, a visão de Kubrick não difere muito da realidade, que depois se descortinou.
Sem qualquer dúvida, 2001: Uma odisseia no espaço (em inglês 2001: A Space Odyssey) revolucionou de forma significativa o cinema não só pelos efeitos visuais que contem, mas também pelo tom filosófico e desafiador da narrativa, bem como, pela riqueza da produção assinada por Kubrick, diretor de outros clássicos, como “O iluminado” e “Laranja Mecânica”.
Em 2018 a produção completa 50 anos. Depois de cinco décadas, o clássico de Kubrick permanece instigante, aberto a várias interpretações e influenciando novas produções de ficção científica.
Cabe entretanto lembrar que a aceitação desta produção não foi imediata. Talvez pela complexidade, talvez pela inovação, alguns críticos, como Renata Adler, do The New York Times, e Judith Crist, da New Yorker, chamaram o longa de monótono, sem imaginação e pretensioso.
Na premier de 2001 (03 de abril de 1968, nos Estados Unidos e 29 de abril de 1968, no Brasil), metade do público deixou o cinema no meio da sessão sem entender do que se tratava o filme e perdida com as referências visuais e filosóficas da obra de Kubrick. Conta-se que, entre os que deixaram o cinema estava o ator Rock Hudson, que teria dito: “De que diabos trata esse filme?”.

Mas não demorou muito para a visão sobre o longa metragem mudar. A exuberância e a profundidade influenciou praticamente todas as obras de ficção científica espaciais que vieram depois. George Lucas, pouco antes do lançamento de Star Wars, chegou a falar sobre a grandeza de 2001 em uma entrevista. Eis:
“Stanley Kubrick fez o filme de ficção científica final, e vai ser muito difícil para alguém vir e fazer algo melhor, tanto que estou preocupado. Em um nível técnico, Star Wars pode ser comparado, mas, pessoalmente, eu acho que 2001 é muito superior.”
O roteiro de 2001 foi inspirado em um conto de Arthur C. Clarke chamado “O sentinela”. O escritor contou como ele e Kubrick chegaram à escolha do texto que deu base ao filme. “Stanley disse:
“Eu quero fazer um bom filme de ficção científica”.
Então, passamos por todos os meus contos para ver o que daria um bom filme. Nós paramos em cerca de seis”, disse em entrevista ao The New York Times. Na sequência arrematou:
“Uma por uma, nós jogamos fora as histórias. Eventualmente, ficamos em apenas duas delas. Uma era O sentinela e o outro era Encontro no amanhecer, na qual uma nave espacial aterrissa antes que o homem existisse e os viajantes encontrassem os macacos humanos. Nós iríamos originalmente chamar o filme de How the solar system was won (Como o sistema solar foi ganho, em tradução literal)”.
Difícil e incompreensível são alguns dos adjetivos que parte do público costuma dedicar a 2001 ao vê-lo pela primeira vez. Arthur C. Clarke chegou a afirmar que:
“Se alguém entender isso na primeira visualização, falhamos em nossa intenção”.
Kubrick entretanto discorda fortemente da com a frase do escritor. Em entrevista concedida à revista Playboy americana sobre o longa afirmou:
“A própria natureza da experiência visual em 2001 é dar ao espectador uma reação instantânea e visceral que não exige — e não deve exigir — amplificação adicional”.
O diretor se recusava a tentar explicar qual o sentido do filme justamente por acreditar que 2001 se trata de uma experiência não verbal. Assim observa:
“De duas horas e 19 minutos de filme, há apenas um pouco menos de 40 minutos de diálogo. Eu tentei criar uma experiência visual, que ultrapassa a classificação verbalizada e penetra diretamente no subconsciente com um conteúdo emocional e filosófico.”
2001 deveria ser, para o diretor, entendido como música, sem precisar de maiores detalhes além da própria obra. Para Kubrick:
“… explicar uma sinfonia de Beethoven seria enfraquecê-la”.