Em 11 de maio último, a Administração Postal Francesa de Andorra pôs em circulação o seu selo EUROPA dedicado às “Descobertas Arqueológicas Nacionais”, com valor facial de € 2,10, impresso em mini folha de nove unidades e destinado ao porte internacional até 20 g. Criado pelo artista Xavier Rebés, o selo retrata em sua vinheta dois pequenos potes de unguento em vidro soprado – com apenas 4 cm de altura – exumados durante as campanhas de 1979-1982 no sítio de Roc d’Enclar, promontório rochoso que domina a vila de Santa Coloma. Esses recipientes guardavam óleos, essências ou perfumes e foram encontrados em sepultamentos datados entre os séculos VIII e X, o que, aliado ao formato de “pera” e ao vidro translúcido, permite atribuí-los à produção islâmica do período Emirado na Península Ibérica. Exemplares análogos, distribuídos do Próximo Oriente ao Magrebe, ilustram a sofisticação do vidro islâmico inicial, que herdou técnicas bizantinas e sasânidas e alcançou grande renome entre os séculos VII e XI.
Roc d’Enclar, por sua vez, é um enclave estratégico que, desde a Antiguidade Tardia, controlava o acesso ao vale de Andorra; ali se ergueram fortificações, uma igreja e uma necrópole ativa entre os séculos IX e XII, comprovando ocupação contínua até a Baixa Idade Média. Estudos topográficos mostram que o planalto integrou um cordão defensivo pirenaico, do qual restam muralhas, silos e oficinas metalúrgicas, escavados em campanhas divulgadas pelo Institut d’Estudis Catalans.
A escolha dos frascos de vidro harmoniza-se com o tema EUROPA de 2025, que convida cada administração postal a celebrar achados arqueológicos emblemáticos do seu território, reforçando o diálogo cultural entre os estados europeus.
Ao lado da emissão monegasca dedicada à Gruta do Observatório, o selo andorrano acrescenta à série um testemunho da circulação de técnicas e mercadorias islâmicas através dos Pireneus durante a Alta Idade Média, quando rotas comerciais levaram vidro, moeda e cerâmica até mesmo a povoados de altitude.