Em 29 de junho de 1964 o Correio do Brasil emitiu um selo “Em Memória ao Papa João XXIII” (RHM 513, CDD 1466 e Y&T: 757), que faleceu no ano anterior, mais precisamente em 03 de junho de 1963. A emissão tem entretanto algumas impropriedades, vejamos:
I – Grafia equivocada da expressão latina “In memoriam“, como se vê no detalhe. A forma “in memorian’, com n no final, está errada. In memoriam significa em memória ou em lembrança. É usada para homenagear alguém que já faleceu, como no caso vertente, sendo muito utilizada em obituários, epitáfios e monumentos mortuários. Esta expressão é utilizada também em dedicatórias a alguém já falecido e em convites de casamento, para indicar que o pai ou mãe dos noivos, mesmo falecido, estará sempre presente. In memoriam pode também assumir a função de um substantivo, se referindo a uma obra literária publicada após falecimento do autor, como uma homenagem póstuma. As expressões latinas não sofrem processos de aportuguesamento, devendo assim ser escritas em sua forma original, sem qualquer tentativa de aproximação às regras ortográficas e fonológicas da língua portuguesa. Deverão, contudo, ser grafadas com algum sinal indicativo da sua condição de expressão de outro idioma: em itálico, entre aspas, sublinhadas ou em negrito. Existem, contudo, não podemos olvidar, expressões portuguesas que podem substituir tranquilamente a locução latina in memoriam, como em memória ou em lembrança. O mais curioso é que no carimbo comemorativo da emissão, a expressão aparece escrita corretamente, como se vê abaixo.
II – Sendo um papa o homenageado postalmente, deveria usar a Mitra Papal ou Solidéu, como vimos nos selos emitidos pelo Vaticano, que são reproduzidos na sequência.
Trata-se de um chapéu semelhante ao quipá judaico, usado pelo Papa, bispos e cardeais. Inicialmente, tinha uma utilidade prática: proteger a cabeça dos religiosos do frio. Depois, passou a indicar hierarquia (autoridade pastoral): o solidéu dos bispos é roxo, dos cardeais é vermelho e o do Papa é branco.
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O nome deriva do latim “soli Deo”, que significa “somente para Deus”. Bento XVI, cabe relembrar, causou polêmica durante seu pontificado por usar solidéu de pele de animais no inverno.
Caso miremos, com atenção o selo emitido pelo Brasil, veremos no destaque abaixo, que o adereço usado na cabeça, por João XXIII, esta longe do usual.

Em outras emissões, pelo mundo afora, os papas usam recorrentemente o solidéu branco.
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No selo de João XXIII emitido pela ECT temos o barrete (Biretum, em latim). Este tem formato quadrangular. Segundo a liturgia católica seu uso se tornou oficial no século XIII com o Papa Inocêncio IV, em 1243. Entretanto seu uso pelo Sumo Pontífice restou abandonado faz muito tempo.