O italiano Jean de Sperati nasceu em Pistoia, no dia 14 de outubro de 1884 e viveu a maior parte de sua vida em Aix-le-Bains (França). Foi talvez o maior, o mais famoso e o melhor falsificador postal da história.
Ele começou a “trabalhar” em 1909-1910, aparentemente, com os conhecimentos de fotografia e impressão que lhe transmitiu sua mãe, Maria de Sperati e em colaboração com seus irmãos mais velhos Mariano e Massimo. Inicialmente a partir de um PO (16 Lucca, Itália) em nome da “Borsa Filatélica Toscana” e, posteriormente, de Turim, Via dei Fiori, 20, enquanto sua mãe e irmãos abriram uma “filial” do negócio, em Pisa.
Suas falsificações chegaram a enganar os especialistas de sua época, por beirarem a perfeição. Esta “qualidade” se devia, ao seu perfeccionismo pessoal, a seu domínio no que concerne, as técnicas fotográficas, químicas, de artes gráficas (litografia e heliografia), bem como, dos papéis.
Seu monumental trabalho, por certo, não teria sido descoberto se não fosse por um caso fortuito ocorrido no curso da Segunda Guerra Mundial.
Em 06 de fevereiro de 1942, Sperati quis despachar, a partir de uma agência postal localizada na França ocupada, uma encomenda destinada a um comerciante português. O pacote entretanto, acabou sendo interceptado e aberto pela censura de guerra, que ao constatar que o mesmo continha em seu interior folhas inteiras de selos postais clássicos de grande valor, acabou acusando-o de exportação de divisas sem as declarações aduaneiras pertinentes.
Sperati alegou sua inocência afirmando que o conteúdo do pacote apreendido pelas autoridades não era composto de selos autênticos, mas somente de reproduções feitas por ele mesmo, como obra artística (Philatélie d’Art), sem nenhum valor filatélico. No curso do procedimento as autoridades convocaram especialistas do meio filatélico, que atestaram que os selos eram genuínos e de valor inestimável, por causa de seu excelente estado de conservação. O notório falsário assim só conseguiu livrar-se depois de pagar uma multa de elevada monta, que lhe foi imposta em decorrência deste incidente.

Depois deste fato, Sperati enviou selos a três distintos peritos para que eles analisassem e determinassem sua autenticidade. Quando os mesmo atestaram que se tratava de um material genuíno, Sperati os solicitou que analisassem a amostra em conjunto. Quando fizeram isto, os referidos “expertos” se surpreenderam ao ver que os três carimbos eram exatamente iguais, estavam na mesma posição e tinham a exata quantidade de tinta. A única explicação possível era que Sperati tinha razão e os selos eram três falsificações resultantes do trabalho do mesmo autor.
Conta-se que quando este embrolho chegou ao final, Sperati recebeu dez milhões de francos franceses da Associação Britânica de Filatelia (BPA) com a condição de que não seguisse realizando suas “obras artísticas”.

Quando faleceu em 1957 (ocorrida em Aix-le-Bains), a BPA adquiriu o resto de sua produção, identificando-as como falsificações, parte dos quais se exibe no Museu Britânico.
Segundo suas próprias palavras, seu real desejo não era enganar o público com suas obras, mas sim ridiculizar os “expertos”, que haviam ignorado seu trabalho durante tanto tempo, atestando-os como verdadeiros. Para evitar que suas reproduções fossem vendidas como boas no mercado filatélico Sperati costumava firmá-los no verso, embora a dita assinatura fosse feita com lápis.
Seu profícuo trabalho, pelo que se sabe, abarcou ao menos 70 diferentes países e mais de 566 “obras de arte” (Nunca se poderá fazer uma lista completa e precisa de sua produção). O fato é que muitos dos selos clássicas que se exibem nas grandes coleções mundo afora, ainda hoje em dia, são de fato as famosas cópias de Sperati, sem que seus donos suspeitem disto.
(Postagem atualizada em 30/IV/2023)