O Vaticano retirou de circulação o selo postal, emitido, como noticiamos aqui no Blog, no último dia 16 de maio, para promover a Jornada Mundial da Juventude que ocorrerá em Portugal este ano, após contundentes denúncias de que celebrava o império colonial português e a ditadura nacionalista de Antônio Salazar.
No selo, o Papa Francisco conduz um grupo de crianças no monumento “Padrão dos Descobrimentos”. A gigantes obra de pedra e concreto foi construído em 1960 para marcar o 500.º aniversário da morte de Henrique, o Navegador, um dos mentores da expansão marítima de Portugal no século XV.
O mesmo, localizado na margem norte do rio Tejo, em Lisboa, é desaprovado por muitos em Portugal porque foi construído durante a ditadura de Salazar e como parte do esforço do governo de então para promover a identidade nacional e a expansão colonial do país, na África.

Após a divulgação da imagem do selo, em terras lusitanas, vários foram os comentários negativos publicados nas redes sociais acerca da combatida emissão, os quais remetem para o imaginário gráfico do antigo Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo e o colonialismo. Muitas publicações nas redes sociais recuperaram a imagem da capa do antigo Livro de Leitura da 3.ª Classe, que pode ser vista acima, para fazer a comparação. A imprensa local, na mesma linha, referenciou a controvérsia a exaustão, com matérias que podem ser lidas em diversos portais de notícias.

O bispo português Carlos Moreira Azevedo, Delegado do Comitê Pontifício para as Ciências Históricas, considerou de “péssimo mau gosto” a imagem do selo comemorativo da JMJ lançado pelo Vaticano.
Para religioso, que exerce as suas funções no Vaticano, o selo “recorre a uma obra muito conotada” e “evoca epicamente uma realidade pastoral que não corresponde a esse espírito”.
A organização da Jornada Mundial da Juventude, por outro lado, esclareceu que o selo comemorativo apresentado pelo Vaticano, de autoria do ilustrador italiano, Stefano Morri, visava apenas “promover” o encontro de jovens com o Papa, afastando leituras que o identificassem com o Estado Novo ou o colonialismo português.
Rosa Pedroso Lima, porta-voz da Fundação JMJ Lisboa 2023 afirmou textualmente que a leitura para a ilustração do selo é:
“uma imagem do Papa num monumento de Lisboa, simbolizando, numa espécie de alegoria, a barca de S. Pedro e o Papa conduzindo os jovens e a Igreja para uma nova época”.
Arremata a referida porta-voz que:
“haverá sempre várias leituras sobre o que quer que seja numa obra de arte, seja ela um selo ou uma ilustração. Esta é a leitura que o Vaticano faz e o objetivo é o de promover a Jornada Mundial da Juventude”.
Até mesmo no Brasil a emissão postal repercutiu e foi inclusive objeto de uma reportagem de Danúbia Gleisser para a TV Canção Nova, que podemos ver na sequência:
Porém, independentemente das justificativas, face toda esta imensa polêmica, fonte oficial do Governorato do Estado da Cidade do Vaticano (a autoridade do pequeno país, que é o emissor da peça filatélica) comunicou que “o selo foi retirado de circulação” e que as autoridades vaticanas estão preparando “um novo selo em substituição”.
ET.: Não é a primeira vez que a autoridade postal do Vaticano emite selos que geram controvérsia. Em 2018 tivemos uma emissão com a imagem de um Cristo musculoso para a Páscoa daquele ano e em 2020, a mesma autoridade postal reproduziu noutro selo uma imagem que feriu direito autoral.
(Postagem atualizada em: 10/VI/2023)