“Poemas Envelope” reúne um conjunto de poesias de autoria de Emily Dickinson (1830-1886), uma das mais importantes escritoras norte-americanas do século XIX, escritos em envelopes previamente utilizados para correspondência.

Cabe observar que a autora não foi reconhecida em vida. Entretanto, após sua morte, teve seus textos publicados (deixou mais de 2 mil poemas escritos) e contribuiu para construir as bases da poesia moderna. Para contextualizar, a poetisa, que viveu em reclusão, mantinha contato com amigas e amigos por meio de missivas.
Este trabalho literário bilíngue, que agora resenhamos, foi publicado pelas Edições do Saguão, em Portugal. Esta edição segue integralmente a da New Directions de 2016, feita de uma seleção de reproduções fac-símile (em tamanho ligeiramente menor do que os originais) dos poemas envelope de Emily Dickinson, retirados da edição completa “The Gorgeous Nothings” (2013).
Os textos poéticos que constam deste livro (100 páginas) não são apenas escritos nos envelopes escrupulosamente guardados pela autora para reutilizar, mas têm características que resultam do próprio suporte precário em que foram escritos e que torna a sua leitura instável, tanto quanto a sua escrita. Assim, os poemas são, com toda a propriedade, poemas envelope, e a palavra “envelope” torna-se um qualificativo (adjetivo), uma vez que a direção, o corte do verso, a separação entre palavras, a contenção, as variantes, são guiados pelo formato do papel.
Nesta edição são transcritas a grafia de Emily Dickinson respeitando a disposição, a orientação, as hesitações, as variantes anotadas e as rasuras, e mostrando uma abertura do texto que resiste à ordenação na página convencional e à interpretação singular.

Na tradução para o português destes poemas, realizada por Mariana Pinto dos Santos e Rui Pires Cabral, objetivou-se reconstituir as imagens fugazes que os poemas trazem, e ao mesmo tempo reproduzir, da forma mais aproximada possível, a disposição do texto no papel, como podemos ver na imagem acima.