Maria de Rabutin-Chantal, marquesa de Sévigné, foi uma nobre e escritora francesa célebre por suas cartas, que se tornaram modelos do gênero epistolar. Nascida em Paris, em 5 de fevereiro de 1626, ela passou grande parte de sua vida dedicando-se à correspondência com sua filha, Françoise-Marguerite, uma troca intensa que se prolongou por quase trinta anos. Ao longo dessas décadas, Madame de Sévigné enviou aproximadamente 1.100 cartas que abordavam temas variados e pintavam um retrato vívido da sociedade e dos costumes franceses de sua época.

Orfã desde a infância, Maria foi criada inicialmente por seu avô e, posteriormente, pelo tio, Philippe de Coulanges, de quem recebeu uma educação excepcional. Aos 18 anos, casou-se com Henri, marquês de Sévigné, mas o casamento não foi feliz; após a morte do marido em um duelo, ela ficou viúva aos 25 anos. Maria, então, passou a concentrar suas energias na criação dos filhos e, mais tarde, na correspondência com a filha, que casou e se mudou para a Provença. Foi nesse período que a troca de cartas entre mãe e filha se intensificou, consolidando-se como um marco literário e histórico.

(Capa de uma edição em inglês de 1745 das cartas de Madame de Sévigné)

As cartas de Madame de Sévigné são consideradas obras-primas literárias, destacando-se pela elegância do estilo, a riqueza de detalhes e o retrato de uma sociedade repleta de contrastes. Em suas missivas, ela abordava desde os acontecimentos do cotidiano e festas da alta sociedade, como as de Madame de Lafayette, até questões pessoais e familiares, tudo com um toque de ironia e, às vezes, de cinismo. Em um exemplo marcante, comentou o suicídio de um mordomo, que se matou por vergonha após a chegada atrasada de um carregamento de peixes para o jantar de um príncipe, revelando assim a indiferença da aristocracia da época.
Publicadas inicialmente em uma edição clandestina em 1725, suas cartas ganharam uma edição oficial em 1734, organizada por sua neta, Pauline de Grignan, marquesa de Simiane. No entanto, questões de autenticidade sempre cercaram essas publicações, já que apenas 15% das cartas eram originais assinados; as demais foram perdidas ou reescritas de acordo com o estilo da época. Em 1873, algumas cópias manuscritas dos primeiros textos foram encontradas, corroborando a autenticidade de parte da correspondência publicada.
Madame de Sévigné é considerada uma das melhores estilistas da língua francesa e suas cartas servem até hoje como uma fonte inestimável de informações sobre a sociedade da época de Luís XIV. Seus escritos não apenas imortalizam o vínculo profundo entre mãe e filha, mas também ilustram o cotidiano da nobreza com um olhar perspicaz e, muitas vezes, crítico. Esse legado literário teve tamanha influência que, no romance “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, suas cartas figuram como leitura favorita da avó do narrador, perpetuando a memória e o impacto de sua correspondência no imaginário cultural francês.

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