A Posten Bring, autoridade postal da Noruega escolheu o impacto das “escavações do degelo” para representar o tema EUROPA 2025 – Descobertas Arqueológicas – e, em 24 de abril, pôs em circulação dois selos “Europa 20 g” (tarifa internacional até 20 g), cada um com valor de 33 coroas norueguesas. Desenhados por Kristin Slotterøy e impressos em offset pela Joh. Enschedé (30 × 38 mm, folhas de 50, tiragem de 150 mil), eles contam duas histórias que só vieram à tona porque o recuo dos glaciares está expondo tesouros outrora protegidos pelo gelo.
O primeiro selo (imagem destacada) mostra o esqueleto quase completo de um cão do século XVI, ainda com o colar, achado em 2019 no gelo entre Lom e Skjåk (passagem de Lendbreen). A presença do animal – possivelmente companheiro de caçador ou de caravanas que cruzavam a serra – lembra como as rotas alpinas eram vitais para o transporte de mercadorias e para a caça às renas. A conservação excepcional deve-se ao “congelador natural” da montanha: madeira, couro e até tecido podem ficar intactos por séculos quando selados no gelo.
No segundo selo surge o par de esquis de madeira mais bem preservado do mundo, datado do século VIII. O primeiro esqui apareceu em 2014 no monte Digervarden, em Reinheimen; o par só se completou em 2021, quando uma temporada de calor revelou o segundo exemplar a cinco metros de distância. Estão tão bem conservados que mantêm as amarras originais, permitindo reconstruir técnicas de deslocamento de há 1 300 anos e demonstrando que, mesmo em pleno inverno, as montanhas norueguesas eram frequentadas para caça e travessias comerciais.
Ambos os achados foram recuperados pelo programa Secrets of the Ice, referência mundial em arqueologia glacial. À medida que as temperaturas sobem, a camada de gelo encolhe e devolve artigos que vão de flechas da Idade do Bronze a sapatos, trenós e, agora, este cão e estes esquis. Do ponto de vista filatélico, os selos noruegueses captam a urgência científica e climática do momento: cada peça é um instantâneo de um passado que se descongela diante dos nossos olhos – e que talvez desapareça se não for rapidamente resgatado.